A onda de violência e assaltos dos últimos tempos, vem desmistificar uma crença que conservei durante toda a vida. A de que “o homem nasce bom e a sociedade o corrompe”. No entanto, actualmente eu atrevo-me sem medo a inverter os factores desse ideal romântico e dizer que "o homem nasce mau e que cabe à sociedade mudá-lo. Redimi-lo do mal congénito através da acções e práticas organizadas das instituições. Quando falamos em instintos, estamos nos referindo ao que o homem guarda na sua essência. Características com as quais ele nasce e provavelmente com elas morrerá. A “crueldade” faz parte destes instintos. O que nos permite viver em sociedade sem agredir uns aos outros são as regras de conduta apreendidas culturalmente. São os moldes que a civilização impõe. O homem não nasce puro como um anjo. Ao contrário. Nasce com todas as suas ambiguidades e conflitos. Ao longo do tempo vai sendo castrado e gradualmente torna-se apto a controlá-las. Desde criança o homem é educado a acreditar que o mal é pecado, que ferir ao próximo é pecado, que transgredir regras é errado, e por aí fora. O que de forma alguma exclui os “maus sentimentos”. Eles ficam apenas oprimidos e escondidos no íntimo de cada um. Levando o assunto para uma análise. Os jovens não conhecem os limites. Não sabem o que é considerado certo e errado. Enquanto a sociedade vai impondo as condições. Os homens já foram bárbaros. Foi em seu processo evolutivo que ele adquiriu a noção de civilidade. Noção esta que está directamente ligada à construção das sociedades. Teoricamente formadas com a função de nos proteger. Mas o que acontece quando o homem se sente excluído dessa sociedade? Quando ele percebe que não faz parte da mesma? Quando ele percebe que o que foi criado para protegê-lo e educá-lo e isso não acontece? Exactamente como todos estes crimes que estamos presenciando agora. Como valorizar a vida do outro se a sua é totalmente descartável? Como pensar em certo e errado se a educação nunca chegou até ele? Como reprimir instintos e limites ? O problema da violência urbana não é falta de segurança. É falta de ética. O problema da violência urbana não é falta de polícia. É um problema social. Não se pode só culpabilizar alguém que está excluído da sociedade. Pensando ao contrário, o criminoso não se sente na obrigação de seguir as leis da sociedade se ele não se sente parte dela. E se a sociedade não cumpre o seu papel, com rigor e competência, o homem retorna à barbárie. Retorna aos seus instintos de sobrevivência, que tem justamente na impunidade o seu maior aliado.
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